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amômetro

  • Maíra Motta
  • 25 de fev. de 2016
  • 2 min de leitura

A gente mede altura, a gente mede temperatura, a gente mede até bafo. Mas pro amor ainda não inventaram régua, balança, pau de selfie, ainda bem. Pro amor a medida não tá no peso, nem cabe em número. Amômetro. A medida é o afeto. Primeiro tentei medir o meu pra saber se correspondia ao seu, ao tanto que você diz e abraça e repete e derrete desse amor a cada segundo. E se desse diferente? A lei seca do amor. E se desse diferente, não por ser menor ou maior, mas por ser essa toda a graça? E se desse diferente porque eu acordo com o sol e você dorme até mais tarde? Feito pedra. Feito toupeira, que pra abrir o olho é uma guerra, como que se realidade e sonho te disputassem em campo de batalha. E se desse diferente porque enquanto você espera, eu atraso, e enquanto eu falo, você cala e de quanto em quanto a gente cresce em encontro? Vai ver é culpa da sua constelação de pintas, da minha cicatriz no joelho, da sua estrutura óssea larga, dos meus óculos de grau, do jeito que o seu corpo inclina quando você ri, da ponta fria do meu nariz, vai ver é porque você é kapha e eu sou pitta, vai ver não é por medo nem por falta de coragem. Eu te amo muito. Muito é o que? Grande? Cheio? Do Oiapoque ao Chuí? Daqui até à eternidade? Você gosta de dizer e provavelmente gosta também de ouvir. Mas é que ouvir não é escutar, ouvir é também compreender e talvez eu não esteja me ouvindo direito. É que de tanto saber do seu amor, esqueci de olhar pro meu. O meu, que é todo seu. É que o 'muito' virou parâmetro e aí o amor desmedido pensa que é menor sem nem saber o quanto é grande não ter tamanho. Então fica combinado que silêncio não é ausência, que muito não tem grandeza, que amor não se compara. Fica combinado que o nosso não é igual, e que isso não faz a menor diferença.

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