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porta-palavra

  • Maíra Motta
  • 23 de mai. de 2016
  • 1 min de leitura

Eu e você somos feitos da mesma matéria: esse embrulho torto por dentro, que pra você aparece no nariz e pra mim nos olhinhos. Escapam também palavras absurdas mas que tampoco cabem no lixo porque não são recicláveis e muito menos de plástico – e você todavia não sabe mas aqui em casa só tem essas duas opções. Eu faço por não dispensar nada, que o erro é também construção. A gente é construção. Tem uma canção portuguesa que diz: “estou bem onde não estou”, mas eu não sei se acredito nisso. É impossível estar em dois lugares ao mesmo tempo isso aqui é tão curtinho e é tudo o que a gente tem. Desaparecer nos dias é sempre uma surpresa, um espanto: no sotaque, nos fios de alguém que fazem o cabelo fora da ordem e isso pode ser lindo, ou no excesso de roupa e capuz que deixa só o rosto da criança pro lado de fora e mais parece um embrulho. Um embrulho torto por dentro feito de café e bicicletas quebradas e porta-palavras que guardam segundos sem nunca deixar de abrir novos espaços.

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