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oito mil lados

  • Maíra Motta
  • 3 de jun. de 2016
  • 2 min de leitura

ser mulher oral: exercito a língua na fala que vem dos cotovelos, nos beijos e nas coisas que tem sabor bom. Sorrio largo, lambo pratos, devoro chocolate, me lambuzo com manga, como com as mãos e lambo os dedos depois. gosto de sentir a roupa folgada, de vestir blusa grande, de não usar sutiã. em casa, quanto menos roupa, melhor- exceto no inverno argentino, e talvez até nele. ser inteira, ser entregue, não ter pudor no que diz respeito aos sentidos, não ter pudor em qualquer coisa que diga respeito ao amor. os deuses tem vários nomes e o meu é esse. sair só para dançar, usar decote do tamanho que convir, beber uísque em copão e cerveja no gargalo. e não ter que pedir pra ser respeitada e não ter que me conter pra não ser julgada, porque isso é o mínimo que espero de vocês. e nunca é só isso. tem sempre alguma coisa que você nunca vai saber. a lua tem quatro fases e oito mil lados. qual você conhece? a gente nasce nu e no sangue que escorre todo mês entre as pernas tem muito mais vida do que se vê. Tem sempre alguma morte. Tem sempre muita sombra. E tá tudo misturado: tem riso, tem sexo, tem silêncio, tem saudade, tem choro, tem cheiro, tem angústia pra caramba e alguém bloqueia esse facebook por favor que isso é pior que cigarro. tem pensamento que faz tanto barulho que não deixa dormir. tem silêncio que faz tanto barulho que não deixa dormir. tem vontade de nem-sei-o-quê. tem saudade de você. tem sempre um dia novo. tudo isso é coágulo e tudo isso corre dentro, o tempo todo.

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