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se me sinto um pouco G.Stein

  • Fernanda Pougy
  • 9 de jun. de 2016
  • 3 min de leitura

Digo que aprendi um bocado com diversos autores e que muito provavelmente eles não disseram nem metade do que eu acho que disseram e quem disse mesmo fui eu e quem sabe inclusive eles discordariam plenamente de tudo isso que os estou atribuindo, mas nada disso importa afinal. Todo texto é uma autobiografia, mesmo que nada pareça dizer sobre a biografia de quem o escreveu e que seja uma narrativa surrealista sobre um unicórnio microscópico que habita as profundezas do oceano veja aí, só eu para inventar esse cenário. Mas como eu ia dizendo, é uma autobiografia com tudo mais que o leitor vai colocar de si nessa leitura, porque um texto sozinho é apenas papel e tinta ou um monte de letrinhas em um fundo claro no monitor. Alguém decifra e faz isso modificando tudo e entendendo como quer e depois ainda vem dizer que aquele autor te ensinou um monte de disparates sobre literatura, meu deus, claro que não que audácia! ele jamais diria uma sandice destas.

De todo modo correndo risco de insultá-la grosseiramente com minha falta de tato para ocultar as vírgulas e usar os trejeitos e dizer do que seja uma autobiografia de todo mundo - que coisa genial que ela fez! – aqui estou imitando Gertrude por esporte. Há quem fique mesmo profundamente angustiado em ler o texto corrido e sem escansões e com uma linguagem assim tão coloquial que tenta fluir como o pensamento embora nas frases a gente fique mesmo preso a uma só corrente e no pensamento a gente possa ir escrevendo por diversos caminhos ao mesmo tempo, como em uma teia.

Em minha opinião muito pelo contrário não penso de forma alguma que seja angustiante, mas encantadoramente libertador poder circular assim pela narrativa e parece até que a velocidade muda de escala. Não é questão de ser mais rápido ou mais lento de ler também não se trata de entender ou não o sentido ao advinhar onde estariam as vírgulas que comi, mas talvez de aceitar que o texto seja o texto e que este seja assim mesmo e nem tudo a gente entende só que se você puder reler o parágrafo mais uma vez (sendo ele assim tão ligeiro, não custa nada reler, caso não tenha entendido) talvez entenda melhor o que quis dizer.

Acontecem coisas mil com cada um e estamos todos vivendo. Uma amiga me contava ainda pouco sobre suas repetidas confusões que sempre circulam na mesma estrutura. Todos contamos isso somos isso vivemos isso. O amor é tão piegas que só nos resta falar dele, afinal é tudo o que temos e o que não temos e por isso amamos o que a gente acha que falta ou oferecemos nossa falta ao outro ou fazemos dele a nossa própria falta e por isso o estimamos em demasia. Acontece que virou mainstream oficializar a confusão do amor e deixar mesmo a coisa frouxa, ir testando para ver no que dá sempre que dá vontade e isso gera confusões, como sempre gerou, mas agora com menos obstáculos. Continuamos vivendo e morrendo disso, da forma que queríamos ou que procuramos ou que colocamos como culpa do destino cruel ou do mapa astral mesmo. Mas é curioso que ninguém se pergunte pela insistência de algumas coisas na própria vida. O que interessa é que alguém venha e te tire do lugar, ou não? A mim sim, o que não quer dizer que eu seja especialista em amor, muito longe disso, na verdade estou distante distante a beça de entender qualquer coisa sobre isso faço apenas especular.

Mas não quero falar sobre isso agora porque me propus a dizer da escrita, no entanto a escrita é sempre uma carta de amor, assim como esta carta eu só consegui escrever quando entendi que escrevia para alguém em especial e que podia fazer outra coisa que a transformasse em algo além de uma simples carta só para essa pessoa, mas em um capítulo de uma coisa maior e que não precisaria ser lida somente pelo destinatário. Afinal, estou me tirando do lugar de quem apenas escreve cartas e não envia ou envia e apenas via ali uma carta, quando era bem mais. Alguém que recebe uma carta ou algo que o valha nos termos atuais e faz outra coisa com ela além de sentir-se lisonjeado e ficar assim bem contente consigo por ser tão especial para alguém te escrever qualquer coisa ainda mais uma coisa bonita e confusa daquelas é alguém que está de parabéns e por isso gosto tanto dele assim. Sem saber o que assim seja.

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