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Antônia

  • Maíra Motta
  • 19 de jun. de 2016
  • 2 min de leitura

A primeira vez que eu vi Antônia, ela fazia uma bomba. Uma bomba caseira, claro, que Antônia sempre foi a favor das pequenas produções independentes. A favor de ser do contra. Sabe gente assim? Era contra todas as grandes indústrias, empresariados, agronegócios. Antônia era contra tudo o que fazia sucesso e estrago. Acho que foi por isso que se apaixonou por mim. Não, nem começa com esse papo de vitimização, que vítima é o caralho. Se você conhecesse Antônia, ah, se você conhecesse Antônia. É que também com aqueles olhos, ela atravessava a alma da gente. Não, não vem com esse papo de poeta, que poeta é o caralho. Antônia, ególatra da porra, o estrago tinha que ser todo dela, de mais ninguém. Daí eu perguntei, Quer explodir o quê?,

ela me disse "hein?",

só pelo prazer de me fazer repetir a pergunta,

e eu repeti, Quer explodir o quê?,

Ela sorriu.

E aí, amigo, foi tudo pro alto. XABLAU. Tá ligado no Twister? Sessão da tarde, anos 90, casa nos ares, vaca voando? A Antônia fazia vaca voar. Então o acordo era esse: ela arrebata, mas mata. Mata porque ninguém vive vinte e quatro horas ao lado de uma pessoa que é incapaz de lentar numa xícara de chá fervente.

Um dia eu perguntei: Antônia, você já viu uma formiga?

E ela me respondeu "uma o quê?",

e eu repeti, uma formiga.

Os olhos de Antônia eram grandes demais pra enxergar as vidas pequenas. A vida de Antônia era toda em fast-motion, eu ia sempre ficando pra trás. E Antônia não sabia rebobinar. Antônia, homérica, atacante, rainha da bateria, e quando ela sorria!, alguém avisa que ninguém suporta tanto brilho, que a muita luz é que nem a muita sombra: cega igual.

Alguém avisa que.

Alguém avisa que.

Olha essa formiga.

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