fez sol
- Fernanda Pougy
- 9 de jul. de 2016
- 2 min de leitura
Para onde vão os planos de um dia qualquer quando algum imprevisto atravessa a linha em que se escreveu “rotina” na agenda? Pode ter sido um cansaço avassalador, gripe, culpa ou algo estragado que comeu. Pode ter sido o sol que saiu e nada pareceu mais urgente do que ir correndo até o mar. Pode ter sido a companhia que fez a cama ser o único lugar possível para existir nesse mundo - ou sono, ou ressaca. Talvez fossem as muitas ideias na cabeça para organizar, que não estavam deixando espaço para as outras. Ou uma temporada nova daquele seriado que você assiste em uma tacada só, interrompida apenas pela trava do netflix que de tempos em tempos te faz alcançar o controle e confirmar que sim, ainda tem alguém assistindo. Ás vezes foi por conta de algum acidente ou doença, que têm soberania absoluta sobre a rotina, assim como ser obrigado a se despedir de alguém que você ama, pois depois de tanto verbo a pessoa morre. Isso acontece nos contextos mais distintos e por mais avisado e esperado que possa ser, nunca é sem susto. O que fará quando chega sem dar o menor sinal prévio. Para os que ficam, digo. Morrer não, morrer já é outra coisa, sem susto nenhum. É morrer e pronto. É não estar mais ali para susto, gripe, culpa, sono, séries, sexo ou outros acidentes. Que a vida mude de curso não é sem susto. Talvez seja porque as mudanças e a morte nos confrontem justamente com o fato de que a vida que é, ela própria, um susto enorme. Talvez o surpreendente seja estar vivo, não o deixar de estar
e que a gente viva esquecendo disso.
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