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anatomia

  • Patrícia Barbedo
  • 30 de jul. de 2016
  • 1 min de leitura

Ouvir um disco de 80. Sua poeira não é suficiente pra reconstruir o rosto dessa passagem. Pra reconstruir aquela curva por baixo da narina que movimenta e faz do rosto forma de ser. Lábios que também fazem curvas, mas esse de ondas que vão e as narinas lançam ares por vezes tranquilos e pausados tal qual silêncio ou exaltados tal qual o esporro da saliva puxada quando se gripando. Gostaria de pesquisar quando o primeiro ser entendeu que morte tem tudo a ver com amor. Que um espirro é silêncio pra uma conversa animada, aquilo que distrai e chama saúde. O que permeia a linguagem, o som, ora. O sacudir da cabeça. O corpo que não aquieta. A memória anda a piscar largos, retina que precisa atentar para aquela curva que daqui a tempos, cai. Cai e curva. A única coisa que explica algo que cai e curva não é a física, é a paixão. É ela que movimenta tudo que dorme dentro e falo isso com lágrimas de uma mãe que perde um filho ouvindo um disco dos anos 80. Se colocar e imaginar dor de um outro é de uma paixão que desenfrea os dedos e nem dá tempo de pensar. Tal qual a poeira da tua espera, aqui. Reconstruir o rosto de uma perda. Curva e passagem pra ir. Silêncio que os órgãos depois de uma ressaca suplicam.


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