Bárbara

tinha um anel grande com super poderes, o que você quer?, ele realiza, juro!, é uma anel mágico, daqueles que vem em kit de princesa, tudo plástico e cor de rosa, bem do jeito que a gente não gosta -se bem que você até que gostava desses detalhes que enfeitam: tererê no cabelo, gargantilha preta, mil pulseiras de miçanga colorida em cada punho caneta com pompom e, vish, por aí ia. se eu ainda inventasse histórias, você ainda acreditaria? são sempre coisinhas miúdas essas que fazem a memória ficar gigante que nem o susto numa velhinha que desce a escada rolante do shopping -tinha escada rolante? a gente tá sempre construindo em cima e mudando a coisa toda, junto, e daí que um tabuleiro de imagem e ação pode ser choro e riso ao mesmo tempo. e daí que a foto é essa? é só pelo abraço, sabe. poderia ser qualquer outra, poderia ser um céu de teresópolis ou um flogão eXcRriTo aXim MiGuxA, poderia ser o primeiro caderno com letra do toquinho ou um desenho seu de giz sobre papel de lixa, poderiam ser duzentas panelas de brigadeiro ou um beliche de santa teresa, um labrador e 11 pastores alemães; poderia ser uma semana inteira de moulin rouge, ou quatro meses seguidos de kart e a gente presa no banheiro; poderia ser guerra de ovo, água e panela pela casa toda, planos para atravessar um corredor, poderia ser um cd que quebra dentro do computador e faz um barulho que mais parece tiro, ufa, não é ladrão, é só o pai abrindo a porta, lucas, desce do armário!, não poderia ser nunca eucalipto nos olhos, isso nunca!, mas poderia ser enjôo na estrada pra friburgo, ou um Barney flertando com você, como você é bonita, cara. isso, sempre. poderia ser a rede que cai com quatro de uma só vez, é queda, mas tá todo mundo vivo, com ossinho do cóccix inteiro graças a deus nosso santo é forte mesmo. poderia de poder, de pode sim, claro, ser infinito e nunca igual, mulher, se eu pudesse te dava de presente um anel -grande rosa de plástico- pra você poder sempre, ser tudo o que quiser.