número um:
- Maíra Motta
- 25 de ago. de 2016
- 1 min de leitura
um homem cortado por uma janela. metade dele é ela. você sempre prometeu tanto que cumprir qualquer coisa já é um assombro. faz uma lista e escreve "número um": encontrar o fulano que não vejo desde aquele ano de 68, desde aquela festa porreta na cobertura do prédio em cima do túnel, que cobertura, meu amigo!, que sala, que casa, que mulher. que mulher. escreve número um e pensa na letra D. escreve o nome dela em maiúsculas pra ver se não esquece, escreve e risca pra ver se esquece. feito chave de carro, número da loteria, caneta bic em mesa de bar, óculos na cabeça, esquece feito aqueles soldadinhos da árvore de natal e a tampa do liquidificador que você nunca achou, esquece e tira uma selfie cheia de dente pra garantir que esqueceu. não, melhor: esquece e tira três selfies faz um boomerang manda um áudio praquele grupo do whatsapp, não!, esquece, melhor esquece e manda um nude pra amiga de ontem, engasga com a tripa do peixe e vomita pra ver se esquece, esquece. faz uma lista e escreve número um: comprar bananas. e sente só o assombro.
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