remonta
- Fernanda Pougy
- 5 de set. de 2016
- 1 min de leitura

Olha e vê se alguma coisa te parece familiar
pois é partindo de moradas provisórias que nossas coisas voltam a ser bem nossas mesmo e se desmisturam daquele resto que também o foi por um tempo
mas não será depois
Sente o assombro de se perguntar ao longo da estrada
como deve ser
a vida de um ipê amarelo todo florido no meio do verde
sozinho
Quem são as pessoas que andam no acostamento
De onde vieram para chegarem nesse ponto
em que não há absolutamente nada perto bem na hora que passa um ônibus e
para para elas
Bem na hora
Só podem ser ETs recém pousados ali em sua nave espacial, que vai ficar no descampado com o efeito invisibilizante ativado até seu retorno
Certamente, pois esse cenário é mais aceitável do ponto de vista da realidade do que o delas terem andado até aquele
ponto
- bem na hora -
no meio do nada da estrada, por dentro do mato, onde não se vê nenhum resquício de intervenção humana além da tira de asfalto que corta
a paisagem
E esses olhos que passaram pela cena no instante exato em que eles se infiltraram na humanidade através daquele ônibus rumo à civilização
Ali, olha e vê! Uma igreja no ponto mais alto e as casinhas se espalhando pelo entorno
Civilização
A sacristia é o lugar do sagrado e do segredo,
e eu morro de medo
da decoração das igrejas - são mais acolhedoras quando
vistas de fora
Agora, finalmente, olha e vê se alguma coisa te parece estranha aqui nesse canto que é seu
Talvez eu tenha esquecido algo aí e seus olhos vão ter mais facilidade em perceber
É que quando me espalho, acho dificílimo
remontar
Comments