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mil andorinhas

  • Fernanda Pougy
  • 18 de jan. de 2017
  • 2 min de leitura

Só para contar o que não se conta: uma viagem da cabeça se perde. Perde a conta. Não se conta uma viagem e não há planilha que a encerre. Mas é importante ressaltar que se colocarmos isso em preto e branco, o que sumir será azul. Seria. Sério, tenho certeza. Pode ser até que você veja cintilar, mas nessas águas não há bioluminescência. Se está vendo, então digamos que tenha, mas há também o que você não vê e tudo bem se quiser chamar de escorpião. Pode imaginar um monstro qualquer. Ninguém o vê na água escura, mas quando morde dói um bocado, melhor sair que a casa é dele. É que inventar sobre o dizível e o indizível, ou sobre o visível e o invisível, ganha esse gosto de broa de milho com manteiga, que não comemos nenhuma vez, mas que gosto muito mesmo. Voltar é perceber que lá tinha outro verde e o outro azul; que as vacas eram magrelinhas; é espantar com o cabelo que ainda não coloquei no correio e que agora não é mais nada meu e com o fato de ser um tremendo desencontro nossa lógica para numerar gavetas. Se você chama a primeira de última, a gente nunca vai encontrar nada facilmente. Mas não é grave, uma vez que vimos um rio titubear em virar mar e voltar no fim de tarde. Talvez o rio fosse medroso, ou então ele e o mar se resolveram numa relação bonita, na qual um deságua no outro de cada vez, para se conhecerem por dentro. Para serem rio juntos, depois serem mar. Serem mais. Não sabemos, mas a maré subindo o rio nos serviu um tanto para descobrir o que não se via da terra firme.


Mar-é sorte. Amar mais pro norte também é.

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