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água não é negócio

  • Maíra Motta
  • 23 de fev. de 2017
  • 2 min de leitura

hoje à noite no meio do pacífico espirra pelo espiráculo da sétima baleia viva um jato

. jonas ensaia maneiras mil de entrar na banheira sem molhar o piso

. alfredo chora, ele já misturou os remédios da pressão com 2litros de álcool etílico escocês e, antes e depois de ligar pra mulher, ele chora

. na piscina do play do prédio da rua silva pinto, clara e vitor trepam um amor de dois metros de largura por meio de profundidade

. cada movimento de jonas é um pouco de transbordamento: o piso já tá molhado e ele nem entrou ainda

. faz três meses e vinte e sete dias que não chove na fazenda, a vó tá preocupada com o gado, com a cerca, com a plantação de café e é da varanda que dá pra ver aquele coqueiro lá longe que às cinco da tarde é a vista mais bonita, mais bonito que o lago só por causa da luz a vó lembra que era (ela e essa) a vista preferida do vô

. 10 graus é o quando o freezer apita. ana liga o cronômetro e testa em quanto tempo ela consegue, só com a língua, fazer o gelo sumir na boca

. charles, macarrão e bia leite ganham a aposta e se jogam juntos no valão que lúcia, por capricho, chama de "rio joana", mas que nunca passou de um valão mesmo

. antes de ser da noite, jumar era do dia, mas isso foi antes dos termômetros atingirem a sensação térmica de 69 graus na sombra; antes de ser taxista, jumar era exportador de água para a arábia saudita, mas isso foi antes do plano collor, isso foi quando ainda chovia

. antes de transportar alfredo pra rua silva pinto jumar perguntou o que ele queria ouvir

. chove

. jonas afunda e a água já está pela metade, jonas ensaia o movimento da ariel quando sobe do mar para a pedra, o ralo tá aberto e jonas vai embora

. pelo espiráculo da sétima baleia viva jonas é espirrado e, hoje à noite, no meio do pacífico, jonas bóia sem transbordar

 
 
 

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