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imprevistos de março fechando o verão

  • Fernanda Pougy
  • 19 de mar. de 2017
  • 1 min de leitura

Abandona tudo na página dez e se julga um grande crítico literário, nem desconfia que não lê o que está escrito no que está lendo e ainda perco meu tempo lhe dizendo que tudo é e não é autobiográfico. Quantas vezes ainda faremos isso, Gertrude? Eles não compreendem que há formigas no interior de todas as paredes desta casa e que descobrir isso reduplica meu trabalho imaginativo do cotidiano, pois agora lavo louça pensando na atividade - oculta pelos ladrilhos - das minhas roomies formiguiliguilins. Elas não saem pelas tomadas há uns dias, desde que ensaiei um genocídio tacando formilix sem afogar ninguém, para elas irem sujinhas lá para dentro das paredes e contaminarem as outras de veneno. Mas tenho forte impressão de que apenas as que estavam mais ali perto da tomada morreram, sinto que o veneno não seja assim tão potente para ter exterminado absolutamente todas (são muitas paredes) e que o esqueleto da casa esteja cheio de cadáveres. Me cansa, como tantas coisas que você não vê sentido em achar cansativo, embora me cuide sem questionar muito. É como a vez que fomos ao banco e os caixas estavam com problema, tive que trocar de caixa algumas vezes até achar um com saque, e você vinha calmamente atrás de mim, finalizando minhas sessões. É isso, eu faço tudo pela metade, falando muito palavrão, e não percebo. Tudo quebra o cano fura a placa mãe enferruja o vestido rasga a alça descostura, a paciência quebra de tanto arrumar remendo e, céus,

formigas habitam o interior das paredes.

 
 
 

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