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os caramujos de End Mills

  • Maíra Motta
  • 1 de jul. de 2017
  • 1 min de leitura

tudo escuro. pelo interruptor, ela acende a lâmpada da própria cabeça, amarela, 880 volts

-se isso existisse-

ela iluminaria toda a sala

pela cabeça dela eles veriam a bagunça que está a casa dele: 365 páginas espalhadas pelo chão, pelo sofá, pelo canto do livro que não termina nunca porque

nunca tá bom o suficiente. nessa hora, ela diria

"não, não. ao contrário:

nunca nunca tá bom o suficiente".

ele me oferece um biscoito e então ele virou esse cara que tem uma casa com pote de biscoitos para as visitas. e então viramos as casas que carregamos nas costas, que nem os caramujos de End Mills.

também o teclado está coberto

por páginas soltas ele me lê

uma página

ele lê bem

uma página pra cada visita que só ele vê

uma cor de cabelo pra cada mulher

mas elas dançam todas a mesma coreografia desses acordes que toco mal.

a música sobe

e as visitas desaparecem como num passe de mágica

-se isso existisse- zupt! a música termina e então

eu digo, e então

você sabia que o menor parque do mundo foi pensado como um circuito para corridas de caramujos?

aceito o biscoito e a gente

compra duas passagens, pega o avião, sobrevoa 17 países para alcançar a sensação

de menos 13 graus celsius

e só.

e só

sabemos que venta porque as folhas giram.

"só sabemos que venta porque as folhas giram",

é essa a notícia da moça do tempo no jornal de hoje.

folhas giram. não tem ninguém nas ruas mas o menor parque do mundo existe. nele, dois caramujos apostam corrida em sentidos contrários.

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