Roubaram minha tartaruga
- Tamires Alves
- 9 de out. de 2017
- 2 min de leitura
Parece anedota mas em pleno 2017 roubaram minha tartaruga. Bia tinha 21 anos muito bem vividos entre a Cidade Maravilhosa e a Terra da Garoa que a acolheu. Fez o trajeto exatamente oposto ao meu de vida. Nos conhecemos na esquina da Siqueira Campos com Barata Ribeiro, pelas mãos de com certeza um vendedor ilegal de animais silvestres. Estava dentro de uma caixa de papelão, era do tamanho da palma da mão de uma garotinha de 9 anos, que fez chantagem emocional para a sua avó, que prontamente comprou. Levei ela pra casa e meus pais incrédulos com a minha avó Dete que havia dado esse presente inusitado pra sua neta que morava num apartamento em plena Nossa Senhora de Copacabana. Tinhosa como era, minha avó só disse que não negaria isso pra mim. Eu e Bia moramos três anos juntas. Passo que ela ficou enorme pra viver num apartamento, vivia entalada entre a geladeira e o fogão e, um dia, a duras penas, fui convencida de deixá-la viver no quintal da minha avó que me havia presenteado. O feitiço virou contra o feiticeiro e Dona oDete passou a cuidar da tartaruga desde então. Todas minhas visitas a sua casa tinham o ritual de ir "brincar" com a Bia. Colocá-la numa bacia para nadar, onde ela realizava esse movimento por cerca de dois minutos e meio e passava a defecar toda a água depois. Também passava um tempo lhe dando suas frutas e verduras preferidas, bem como ração do cachorro molhada. Esticava seu super pescoço e esperava mínimos cafunés em sua cabeça. Sua pele verde com inúmeros pontinhos laranjas são inesquecíveis. Um jabuti maravilhoso e que carregava toda sua personalidade no nome "Bia Estupida Biruteteia Lenga-Lenga Jurubeba". Acontece que em maio minha avó, bastiã do legado da nossa tartaruga, partiu daqui e os trâmites para o que fazer com a Bia se iniciaram. Consegui que ficasse com um amigo biólogo até que eu voltasse da temporada porteña. Quando comecei a assuntar os trâmites via meus velhos fugindo. Tentei inúmeras vezes marcar o traslado e nada. Eis que um dia, já contra a parede me contam: Bia foi roubada. E o mais estranho neste caso: o ladrão não levou mais nada, apenas a tartaruga. A história com cara de anedota não tem sentido nem fim. Pra que alguém pularia um muro por uma tartaruga? Para comer? Está muito velha. Para cuidar dela? Porque não pediu? Será que foi uma criança? Um adulto que sempre admirou Bia de longe? Um conhecido? Pra mim, Bia, que sempre foi parecidíssimas com a minha avó de personalidade e aparência, se desmaterializou junto com a velhinha. Não viu mais sentido em ser o presente inusitado de uma avó quando essa já não estivesse mais aqui. Saudades, vó e Bia.
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