Vai ter outro dia em novembro
- Maíra Motta
- 30 de out. de 2017
- 2 min de leitura
Estranhar os corpos em ristes no corredor do ônibus. repare, os corpos em riste se mexem pelas extremidades e também por algumas outras aberturas, buracos, que se alargam mais ou menos. os olhos daqui pra lá daqui pra lá daqui pra lá todo mundo respira o mesmo ar mas ninguém fala sobre isso. são muitos corpos em riste com duas patas no chão. a evolução é isso, uma coluna ereta? involutivo então é tudo o que se entorta, como minha avó e os dentes depois de certa idade? pensando bem, há razão nesse sentido: toda perda tem um bocado de tortidão, disso que escapa da linha reta seja por tropeço, nó, hérnia, furo, pedra no meio do caminho, alguém cortou a nossa linha e no lugar da continuação, uma curva.
Se curva no jeito de encaixar o corpo pelo diminutivo de concha, só pra ver se acha mais rápido onde foi que perdeu o sono pela última vez a curva que faz os teus cachos teus é também uma repetição circular de perdas de ordem, uma mola que joga pra cima todos os seus fios e me bagunça da cabeça aos pés me bagunço na repetição de todos os horários dos dias que não cansam de nascer, eu canso de nascer e eles não!, puta mãe dos dias, sempre grávida: cheia e esvazia pra depois encher de novo. como faz pra não pifar? só nascendo lua ou sendo oito. digo, 8. assim, feito de dois círculos, um em cima do outro, 8 involuções de curvas infinitas.
Epifania. Pifa? coisa pifa, gente pifa, palavra pifa pelo dedo ou por qualquer gesto inútil, nossa palavra pifa mais que microondas.
A palavra microondas também é feita de curvas, ou pelo menos eu nunca vi onda, nem macro nem micro, reta nessa vida.
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