esquinas e outras partes que dobram
- Maíra Motta
- 24 de nov. de 2017
- 2 min de leitura
cada linha é um exercício mais pesado que cem abdominais para manter a fé
que palavra não é divã
nem nunca mentirosa se for capaz de contrair alguma coisa dentro:
memória ou músculo, tanto faz
do lado do café tem uma igreja que se escreve assim
“igreja para quem não frequenta igrejas” e as pessoas fazem cooper ao redor dela:
as pessoas correm em círculo para encontrar deus:
no altar, o padre faz spinning
e as pessoas fazem qualquer loucura por um respingo de milagre:
"alonga o ciático, meu filho,
que deus alivia a tua dor"
nunca encontrei deus correndo
nem procurando
o cemitério mais bonito que já vi na vida achei por acaso numa cidade esquecida de outro continente. era um bosque, sem muros, feito como uma continuação da mesma rua e uma perda progressiva de asfalto virando cada vez mais terra
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que nem esses espaços que vão tão vagarosamente virando outro e de repente se passaram 30 anos, o cabelo caiu, a barba cresceu, o ex amigo é deputado, o ex amor é pai e amor de outra pessoa e você começa a procurar pelo chão pra ver se encontra ali, na terra progressiva, entre túmulos, folhas secas e dizeres em alemão que não expliquem nada disso, uma lápide com restos vivos de vocês: ossos, letras, os óculos que ele quebrou quando pulou na cama, aquela cama e os três risos apontando pra queda,
eita,
seria um túmulo bem grande-
era um bosque sem muros e entre raízes, uma lápide feita de azulejos coloridos em forma de sol.
um sol torto de despedacinhos vermelho azul e amarelo,
desenho de criança
letra de criança
um túmulo pequeno demais pra guardar tanto futuro.
nem todo mundo morre velho,
nem todo mundo morre grande.
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